terça-feira, 29 de julho de 2014

Dia 101 - De recomeços

Recomeçar é verbo prometedor. Sabe a força. Cheira a novo.

Embora haja quem diga ter medo de recomeços, na verdade, mesmo quase sem dar por isso, usamos e abusamos das suas versões ao longo das nossas vidas, todos os anos, todos os meses, todos os dias ou até várias vezes num mesmo dia.

Garante da sobrevivência, recomeçamos sempre que a vida nos dá estaladas. Recomeçamos sempre que caímos. Recomeçamos acompanhados. Recomeçamos sem ninguém ao lado. Recomeçamos a cada filho. Recomeçamos sempre que a vida nos dá outro olhar.

Cada acordar é um recomeço. Cada espelho é um recomeço. Cada livro é um recomeço. Cada mudança de óculos é um recomeço. Cada minuto em frente a algumas pessoas tem mesmo de ser um recomeço, que segure com trela a vontade de lhes pregar uma valente sova.

Esta carteira está tão próxima da espécie humana quanto lhe permite a sua sede de assimilação. Fechou-se (comprou até cadeado na loja do chinês!) quando chegou aos cem títulos em blogue alheio. Grata ao João Marchante mas exausta. Faltava-lhe o treino naqueles hábitos saudáveis que tanto apregoam por aí.

Após reflexão profunda, tanta quanto o seu volumoso bojo, decidiu-se então pelo recomeço, arrombou o cadeado e mudou-se de armas e bagagens para apartamento próprio (é arrendado, mas agradeço que não lhe digam).

Neste andar de duas assoalhadas, convivem antigas crónicas e arremedos de novas, agora sem horários fixos. Não consegui inculcar-lhe os tais hábitos...

Deixamos o ego quoque para o que sempre foi. O cantinho.

Se este recomeço não parece tão prometedor quanto o verbo, no futuro vai tentar sê-lo, tanto mais que de promessas vãs está a carteira cheia e por isso nunca encontro nela o tema das crónicas.

Já agora, pedia o pequeníssimo favor ao país para aprender a recomeçar.


Leonor Martins de Carvalho

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