Recomeçar
é verbo prometedor. Sabe a força. Cheira a novo.
Embora
haja quem diga ter medo de recomeços, na verdade, mesmo quase sem
dar por isso, usamos e abusamos das suas versões ao longo das nossas
vidas, todos os anos, todos os meses, todos os dias ou até várias
vezes num mesmo dia.
Garante
da sobrevivência, recomeçamos sempre que a vida nos dá estaladas.
Recomeçamos sempre que caímos. Recomeçamos acompanhados.
Recomeçamos sem ninguém ao lado. Recomeçamos a cada filho.
Recomeçamos sempre que a vida nos dá outro olhar.
Cada
acordar é um recomeço. Cada espelho é um recomeço. Cada livro é
um recomeço. Cada mudança de óculos é um recomeço. Cada minuto
em frente a algumas pessoas tem mesmo de ser um recomeço, que segure
com trela a vontade de lhes pregar uma valente sova.
Esta
carteira está tão próxima da espécie humana quanto lhe permite a
sua sede de assimilação. Fechou-se (comprou até cadeado na loja do
chinês!) quando chegou aos cem títulos em blogue alheio. Grata ao
João Marchante mas exausta. Faltava-lhe o treino naqueles hábitos
saudáveis que tanto apregoam por aí.
Após
reflexão profunda, tanta quanto o seu volumoso bojo, decidiu-se
então pelo recomeço, arrombou o cadeado e mudou-se de armas e
bagagens para apartamento próprio (é arrendado, mas agradeço que
não lhe digam).
Neste
andar de duas assoalhadas, convivem antigas crónicas e arremedos de
novas, agora sem horários fixos. Não consegui inculcar-lhe os tais
hábitos...
Deixamos
o ego quoque para o que sempre foi. O cantinho.
Se
este recomeço não parece tão prometedor quanto o verbo, no futuro
vai tentar sê-lo, tanto mais que de promessas vãs está a carteira
cheia e por isso nunca encontro nela o tema das crónicas.
Já
agora, pedia o pequeníssimo favor ao país para aprender a
recomeçar.
Leonor
Martins de Carvalho
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