Até
podia aproveitar a maré das efemérides desta semana para uma alfinetada
monárquica. Contudo, tal como os nossos antepassados aprenderam a navegar à
bolina para chegar a bom porto, decidi ir contra o vento. Afinal nem tinha
outra hipótese, pois nesta carteira, gémea de todas as outras, o aleatório é
quase comandante. Nunca se encontra o que se quer e sai sempre o inesperado.
Parafraseando
os saudosos Monty Python, passemos então a algo completamente diferente: “os
políticos”. Queixamo-nos todos os dias dos políticos em geral e de muitos em
particular. Que fazer? Haverá solução? Será que ligeiras alterações à sua
carreira fariam alguma diferença? É mesmo o que proponho, ligeiríssimas
alterações.
Todos
os aspirantes a uma carreira na política, seriam obrigados a passar por uma
série de provas. À moda dos Jogos sem Fronteiras, lembram-se? Para que o povo
conhecesse bem os futuros políticos, as provas seriam televisionadas e
apresentadas pelo Eládio Clímaco, que tem a experiência requerida.
Deixo
aqui dois singelos exemplos:
1.
Viver um mês numa aldeia isolada.
Pode
ser em Trás-os-Montes, Beiras ou Alentejo, tanto faz.
A
preferência seria por uma aldeia num vale recôndito, sem rede de telemóvel nem
de Internet, nem sequer acesso à novíssima TDT. Ficariam a 20 km de outra
aldeia e a 50 km da vila mais próxima, através de belíssimas estradas com
curvas a cada 5 metros e com espaço suficiente para passar um Mini.
Os
candidatos receberiam a reforma mínima, não tinham direito a automóvel e teriam
de fazer a vida de uma família normal: ir para o trabalho, às compras, ao
médico, à escola, à Câmara, ao tribunal (antes ainda do novo mapa judiciário).
O
júri era constituído por habitantes locais com fama de incorruptíveis, que se
encarregavam de verificar se não havia batotas.
2.
Viver em ambiente urbano sem automóvel, num qualquer subúrbio de Lisboa.
Pode
ser Seixal, Stª Iria de Azóia ou Algueirão, tanto faz.
Nesta
prova, com o pecúlio aumentado para o salário mínimo, teriam de descobrir que
tipo de passe comprar, as ligações e transbordos necessários, e depois ir para
e voltar do trabalho à hora de ponta, bem como efectuar percursos em horário
nocturno e em fim-de-semana.
Também
aqui se poderia recorrer a habitantes locais como jurados, mas um concurso para
voluntários controladores não era má ideia, desde que fossem revistados antes,
para evitar vinganças privadas.
Os
sobreviventes a estas provas e mais algumas outras, elaborariam a final um
relatório, que, para testar a sua capacidade de síntese, não poderia exceder
uma folha A4, com as suas impressões, pontos fortes e fracos e currículo
completo, anexando carta de motivação, sobre o tema “Ser político é servir”.
Esta seria a base da entrevista, onde seriam testados ao limite, ligados a um
polígrafo.
Talvez
assim os futuros políticos consigam perceber a diferença entre o mapa no
gabinete e a vida real. Talvez assim, cada vez que tomam decisões, se lembrem
das pessoas. Talvez assim conheçam o povo, o ouçam, nas suas queixas e nas suas
histórias, e aprendam o que é solidariedade.
Acredito
que as provas tornariam os futuros políticos melhores pessoas e por isso
melhores políticos. Caso contrário, seriam casos perdidos, que deviam ser
banidos de cargos públicos ou exportados para melhorar a balança comercial. Não
muito, porque o seu valor é baixo.
Leonor
Martins de Carvalho
Publicada
a 03/02/2012 no Eternas Saudades do Futuro
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