A carteira julga-se
cientista no meio de um doutoramento, esquecendo-se convenientemente de ainda não
ter acabado o liceu. Impinge-nos, pois, a sua nova teoria: a vingança das
letras. Das letras más.
Parece que é uma maldição por
fases. Basta olhar para os jornais para ver que agora estamos na fase da letra
B.
BPN, BPP, BES, BdP, BCE,
ocasionalmente intercalados com Benfica ou Bombardeamentos. Pelos vistos, Ébola
também conta, bem como Avião e Governo, por causa de alguns sotaques. Com estas
excepções, não sei se a tese é lá muito sólida, mas a carteira teima.
A dita série amaldiçoada não
segue qualquer ordem, muito menos a alfabética. Não começou no A nem se lhe
segue o C. É uma série caótica, sem qualquer possibilidade de transcrição em
fórmulas matemáticas, gerada aleatoriamente nos casos terríveis que dominam o
mundo, um mundo, diz ela, subjugado pelas letras.
Perguntei se alguma vez havia
uma qualquer influência positiva nessa tal série vingativa e se palavras como
Bem ou Belo poderiam entrar na sua composição. Explicou que fazem parte da
maldição mas, porque são sempre minoritárias, não conseguem desviar a rota.
A ser assim, e pensando só
em Portugal, posso juntar-lhe ainda Barbárie, Bestas, Burlas e Vergonha (a
pensar nos tais sotaques).
Não vamos sair do Buraco
tão cedo, por isso o reino dos Bês ainda nos vai acompanhar. Vou pedir que me
avise quando chegar a maldição do G, porque quero muito falar de ganância, ou
do C, de compadrio e corrupção.
Pode ser também que um dia
chegue a vez da vingança das letras Boas.
Leonor Martins de Carvalho
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