terça-feira, 12 de agosto de 2014

Dia 102 - Da vingança das Letras

A carteira julga-se cientista no meio de um doutoramento, esquecendo-se convenientemente de ainda não ter acabado o liceu. Impinge-nos, pois, a sua nova teoria: a vingança das letras. Das letras más.

Parece que é uma maldição por fases. Basta olhar para os jornais para ver que agora estamos na fase da letra B.

BPN, BPP, BES, BdP, BCE, ocasionalmente intercalados com Benfica ou Bombardeamentos. Pelos vistos, Ébola também conta, bem como Avião e Governo, por causa de alguns sotaques. Com estas excepções, não sei se a tese é lá muito sólida, mas a carteira teima.

A dita série amaldiçoada não segue qualquer ordem, muito menos a alfabética. Não começou no A nem se lhe segue o C. É uma série caótica, sem qualquer possibilidade de transcrição em fórmulas matemáticas, gerada aleatoriamente nos casos terríveis que dominam o mundo, um mundo, diz ela, subjugado pelas letras.

Perguntei se alguma vez havia uma qualquer influência positiva nessa tal série vingativa e se palavras como Bem ou Belo poderiam entrar na sua composição. Explicou que fazem parte da maldição mas, porque são sempre minoritárias, não conseguem desviar a rota.

A ser assim, e pensando só em Portugal, posso juntar-lhe ainda Barbárie, Bestas, Burlas e Vergonha (a pensar nos tais sotaques).

Não vamos sair do Buraco tão cedo, por isso o reino dos Bês ainda nos vai acompanhar. Vou pedir que me avise quando chegar a maldição do G, porque quero muito falar de ganância, ou do C, de compadrio e corrupção.

Pode ser também que um dia chegue a vez da vingança das letras Boas.


Leonor Martins de Carvalho

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